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Gerenciamento de crise: Desastre de Bhopal

O dia 03 de dezembro de 1984, para muitos, pode ter sido somente mais um dia. Mas ficaria para sempre marcado na história da empresa norte-americana Union Carbide, seus porta-vozes e os milhares de cidadãos de Bhopal, capital do estado de Madhya Pradesh, na Índia, como o Desastre de Bhopal.

Naquela noite de segunda-feira, as válvulas do tanque de gás da fábrica de pesticidas da cidade estouraram, o que ocasionou um terrível vazamento de 40 toneladas de metilisocianato – um gás extremamente venenoso. Centenas de pessoas morreram durante o sono, e outras milhares morreram na manhã seguinte, antes que pudessem conseguir socorro no superlotados hospitais locais. Ao longo das semanas seguintes, foram mais de 10 mil mortes contabilizadas e mais de 150 mil pessoas afetadas – dentre as quais 50 mil se tornaram invalidas para trabalhar.

Por si só, esse já é um cenário horripilante. No entanto, o modo como a comunicação da Union Carbide lidou com o ocorrido transformou uma situação péssima em insustentável.

Em meio a esse cenário, soma-se o fato que a fábrica sofreu, desde sua inauguração, diversos cortes de gastos – o que envolvia manutenção de equipamentos e treinamento de funcionários – um processo de dois anos que foi resumido a um mês. A falta de treinamento não permitiu que os funcionários percebessem a gravidade da situação, que inclusive fizeram um intervalo para o chá após o vazamento.

Warren Anderson, CEO da Union Carbide, ao tomar conhecimento da situação e após sofrer pressão por parte da classe empresarial americana, tomou um avião com destino a Índia para assistir as vítimas e os negócios. No entanto, logo no desembarque, Anderson foi levado a prisão, onde os gerentes da fábrica já estavam encarcerados. Solto mediante pagamento de fiança, o CEO foi aconselhado a deixar a Índia imediatamente para sua própria segurança.

Tal como a visita de um presidente a uma cena de desastre, a visita de Warren Anderson não geraria novos dados para a resolução prática do caso. No entanto, ela seria de grande importância para não reforçar a ideia que a Union Carbide é uma empresa altamente focada em lucro e pouco interessada no material humano que movimenta seu negócio.

Desde o momento do acidente, todos os repórteres e jornalistas tiveram sua entrada proibida na sede da empresa em Connecticut. E o que começou com cerca de 12 repórteres, até o momento do retorno de Warren Anderson aos Estados Unidos, logo se tornou mais de uma centena.

Uma coletiva de imprensa foi organizada no Hotel Hilton, próximo a sede. O advogado Jackson Browning foi escalado como porta-voz e atendeu os jornalistas com respostas confiantes e amigáveis – e ignorou aqueles que lhe direcionavam perguntas mais capciosas.

A companhia se recusou a assumir responsabilidade pelo ocorrido. No lugar disso, escolheu culpar publicamente grupos terroristas indianos pela explosão. Em face de argumentos insustentáveis, a posição seguinte da empresa foi responsabilizar um de seus funcionários, acusando-o de sabotagem. Um processo nos EUA foi aberto e vencido pela empresa com esse argumento. No entanto, a empresa optou por jamais abrir um processo na Índia e não teve coragem de enfrenta a justiça local no caso.

Por fim, apesar de hoje sabermos que o produto químico que estava matando a população era metilisocianato, na ocasião a empresa se recusou a fornecer informações quanto ao conteúdo contaminante de seus pesticidas, o que impossibilitou que as equipes médicas da região pudessem tratar os pacientes de maneira mais eficiente. A empresa também se recusou a fornecer dados técnicos sobre a fabricação e manutenção do pesticida que produziam.

Analisando o caso, é possível encontrar diversos erros de comunicação por parte da empresa – seja na comunicação interna, como a falta de estrutura de treinamento fornecida para os funcionários indianos, seja no relacionamento com a imprensa, como o não fornecimento de informações. É importante ressaltar que, mesmo em momentos de crise, lidar com a imprensa é um ponto crucial para a imagem pública de uma corporação. Afinal, os jornalistas irão escrever sobre o caso de qualquer maneira, então melhor que seja com as informações oficiais.

Este conteúdo é uma colaboração de João Pedro Andrade

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