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Elon Musk: visionário ou um grande case de marketing?

Por Amanda Lima

Em uma terça-feira de fevereiro deste ano, a imprensa internacional foi tomada pela notícia de que um carro elétrico havia sido lançado ao espaço por um foguete. O veículo era um Tesla Roadster, usado como carga do Falcon Heavy, foguete da empresa SpaceX. O CEO das duas empresas, Tesla e SpaceX, é Elon Musk, um empresário digno de estudos em diversas áreas: tecnologia, inovação, economia e, claro, comunicação.

Parei para pensar na construção da imagem deste homem que, logo após o feito, declarou: “É bobo e engraçado. Mas as coisas bobas e engraçadas são importantes”. Não sou mestre na arte dos foguetes, mas não me parece nada bobo, engraçado ou sem importância lançar ao espaço um veículo que, em seis meses, deve chegar à órbita de Marte e permanecer por aí durante milhões de anos.

Um pouco de contextualização não faz mal a ninguém

Há quem considere Musk um desses gênios visionários meio malucos e excêntricos que nos ajudam a traduzir e construir o futuro. Faz sentido: além da Tesla, montadora especializada em carros elétricos, e da SpaceX, empresa de transporte espacial, o bilionário é criador também do PayPal e da Boring Company, que planeja conquistar o subsolo.

Nos últimos cinco anos, o empresário estipulou planos e um cronograma com um objetivo: enviar humanos para colonizar Marte. No fim do ano passado, Musk afirmou que, em 2022, a SpaceX deve enviar uma missão de carregamento para estabelecer bases, seguido de uma missão tripulada em 2024. É aí que entra o storytelling de Musk: tudo nele vende o sonho de que será possível ao homem chegar a outro planeta!

O lançamento “bobo e engraçado” do Tesla Roadster recebeu cobertura massiva da mídia e tornou-se um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. Além do feito em si, alguns requintes de publicidade também permearam o evento:

  1. O tripulante do carro era um boneco vestido de astronauta apelidado de Starman, referência à música de David Bowie, que estaria tocando no rádio do carro se o som pudesse se propagar no espaço.
  2. Na tela do painel, aparecia uma mensagem de O Guia do Mochileiro das Galáxias: “Don’t panic” (não se desespere).
  3. Na placa de circuitos do Tesla Roadster, constava a mensagem: “Feito na Terra por humanos”.

“O arquiteto do amanhã” ou o marqueteiro espacial?

A jogada de Elon Musk mostrou a força da SpaceX e promoveu a Tesla, mas representou acima de tudo uma ação que nenhuma verba de mídia poderia adquirir, como analisou Fernando Murad no Meio & Mensagem. Na manchete de The New York Times, Musk seria “o empreendedor mais bem-sucedido e importante do mundo”. Pela Rolling Stone americana, “o arquiteto do amanhã”.

Que há nisso uma baita construção de imagem, não é uma novidade. Todos nós a praticamos – nossa conta pessoal no Instagram é um exemplo disso. A questão é que temos muito a aprender ao analisar o marketing em torno de Elon Musk. Trata-se de uma construção muito mais sofisticada e complexa.

  1. O “beabá” do storytelling: Musk cria nas pessoas um sonho excêntrico difícil de ser alcançado e até pouco tempo intangível, o de levar o homem a outro planeta. Isso cria uma fantasia em torno de sua imagem, o que naturalmente desperta grande interesse.
  2. Primeira pessoa: apesar de contar com uma grande equipe de profissionais certamente excepcionais, Musk é sempre a cara à frente das inovações empregadas por suas empresas. Esse é mais um fator com cheiro de estratégia de marketing. Ele representa um “herói”, o bilionário genial que se envolve em ações sociais. Esse tipo de figura pública é construído passo a passo, aproveitando oportunidades de mercado.
  3. Interesses mercadológicos: Musk é projetado como um visionário e certamente conta com uma equipe de PR para isso também por interesses de mercado. As empresas de Musk trabalham com riscos altíssimos e precisam sempre contar com investidores – depois do lançamento do carro ao espaço, a Tesla divulgou um prejuízo recorde no 4º trimestre de 2017.

Louco ou visionário, o fato é que, por trás do empresário, existe uma estratégia de marketing tão inovadora quanto os produtos das empresas Tesla e SpaceX. Vale ficarmos atentos!

Foto: Aaron P. Bernstein/Reuters

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